Quais ferramentas temos para projetar de forma colaborativa o espaço público?

Quando se trata de projeto, os canais que se abrem para a coleta de informações são vitais para o sucesso do processo. A diversidade e amplitude do público a quem se dirigem nossas perguntas, questões e interrogações é tão amplo que devemos pensar em processos que permitam que todos contribuam e, além disso,  façam de modo construtivo sobre um jogo de tabuleiro comum, pois só assim, poderemos alcançar um projeto coletivo. Graças à nossa experiência, temos testado a eficácia de diferentes ferramentas e selecionamos as que para o Paisagem Transversal consideramos mais eficazes.

Como é sempre melhor dar exemplos para entender e aplicar o que fazemos na realidade, decidimos aproveitar o projeto em Torrelodones para mostrar essas ferramentas. Trata-se do projeto colaborativo de remodelação do parque Pradogrande, um parque com área de mais de 4 hectares localizado na parte da cidade de Madrid denominada como La Colonia e que se estende através do núcleo urbano. O atual uso do parque, assim como a diversidade de atividades que ele hospeda -há festas populares, outros eventos específicos, quadras esportivas, área infantil, canil, etc - torna ainda mais importante analisar junto a seus usuários cada mudança e cada reforma.

Então, como nos propomos escutar o parque e seus usuários?

Questionários

Questionário para a cidadania do projeto participativo em Pradogrande. Imagem © Paisaje Transversal

Tanto físico como online, mas sempre interativo. Trata-se de uma maneira de alcançar as pessoas individualmente - embora existam também modalidades coletivas - de forma lenta, reflexiva e em um tempo determinado. O objetivo é que, de forma simples e rápida, o usuário deixe suas opiniões e propostas sobre o espaço público seguindo uma estrutura comum ao restante dos canais de participação.

Para isso, propomos seguir a Tripla Dimensão do espaço público. Graças a plantas, fotos ou ícones, se facilita ao participante pensar sobre o parque como um todo e as necessidades de todas as pessoas que virão a usá-lo, sem que isso seja tedioso. A maneira de obter e coletar os questionários preenchidos também é fundamental, e por isso sempre valorizamos a possibilidade de torná-los físicos e/ou virtuais. Por outro lado, os questionários digitais são mais fortes pois podem ser compartilhados. No caso do parque Pradogrande, o questionário digital não é interativo, mas usa recursos gráficos como um plano de rota, outro de zoneamento e é acompanhado de fotos explicativas.

Questionário para a cidadania do projeto participativo em Pradogrande. Imagem © Paisaje Transversal

Mapas Participativos

Um mapa — que é a versão impressa dos questionários online — é a representação gráfica do espaço público e muitas vezes os usuários não têm em mente uma dimensão real ou tantos detalhes como o próprio mapa. Portanto, devemos entender que a complexidade da realidade pode ser refletida, mas de uma maneira que facilite situar-se nos aspectos mais significativos do parque.

Em Torrelodones, usaremos o chamado mapa BIG - por suas grandes medidas - acompanhado por canetas e marcadores ou, bem, de adesivos. Trata-se de um plano simplificado da situação atual do parque em que de modo individual ou em grupo projetam a proposta de melhoria para o parque. A operação é a mesma: indicar na representação gráfica as propostas, valores e problemáticas que merecem atenção graças aos ícones agrupados nas três modalidades que definem a dimensão tripla do espaço público: acessibilidade e segurança, conforto e natureza, e diversidade de usos.

Precisamos de mais bancos na sombra? Seria bom ter um quiosque onde comprar água? Podemos melhorar este lugar para a prática de esportes? Talvez, mais árvores? Todas as propostas serão registradas de forma muito simples para visualizar e ordenar à comparação. Nesse caso, o modo de distribuição é diversificado, desde o envio a domicílio até a distribuição dos equipamentos e, por fim, o mais importante, distribuí-los e dinamizar seu uso no parque, trabalho que estamos realizando em Torrelodones com o apoio de facilitadores de Torreforum (Área Juvenil da Câmara Municipal).

Mapeamentos

Mapa BIG usado no projeto colaborativo do parque Pradogrande. Imagem © Paisaje Transversal

Para aqueles que não têm uma boa memória ou pouca imaginação espacial, é melhor caminhar pelos espaços. Uma caminhada produtiva é aquela em que olhamos para onde estamos indo, vemos as proporções e os detalhes que nos escapam pelo dia a dia.

No Paisaje Transversal, recorremos a essas atividades participativas pois é uma boa maneira de compartilhar as opiniões dos diferentes usuários, técnicos e tomadores de decisão. Nestas caminhadas, podemos contar com o mapa como apoio ou não, podemos fazer temáticas focando apenas em alguns aspectos a se analisar, ou podemos dividi-lo pelas características dos usuários, como idade ou atividade realizada nesse espaço público.

No caso do Pradogrande, os responsáveis da oficina de inovação urbana, juntamente com o conselho da cidade, realizam diferentes atividades de mapeamento durante o mês com grupos etários específicos, como jovens do instituto e os maiores usuários do centro de serviços sociais, assim como um convite aberto à todos os públicos para falar sobre temas-chave. Semelhante àqueles já feitos no parque JH de Torrelodones.

Entrevistas

Momento do mapeamento realizado no processo de projeto participativo do parque JH em Torrelodones pela oficina de innovação urbana. Imagem © Paisaje Transversal

Não menos vistosas, as entrevistas são uma ferramenta menor. Reunir e pedir a todos os coletivos e associações que realizam atividades no parque ou ter um interesse específico em torno dele é fundamental. A entrevista é dirigida para que a equipe técnica responsável pelo projeto do parque fale cara a cara desde o início com a rede de usuários coletivos de um parque e gerar um clima de interesse e confiança no processo.

Os institutos também estiveram envolvidos na concepção conjunta do novo Pradogrande graças às ferramentas de participação do Paisaje Transversal. Imagem © Paisaje Transversal

Para isso, pedimos aos entrevistados que expliquem as atividades que realizam no parque e façam um exercício muito interessante, desenhar o parque. O desenho é um mapa cognitivo que nos reflete que espaços ou zonas são menos reconhecidos ou usados no espaço público. No caso de Pradogrande, foram entrevistados muitos grupos diferentes: associações culturais e esportivas, instituições religiosas, profissionais especializados vizinhos do parque, equipamentos públicos e técnicos públicos. A mais importante dessas entrevistas é confirmar o interesse no projeto, detectar as visões comuns entre todos os grupos e, fundamentalmente, aumentar a motivação.

Estas são ferramentas que sempre devem ser ajustadas e adaptadas ao projeto, concretizando o que estamos fazendo em cada momento, tanto para sua singularidade social quanto local. Canais que nos serviram em outros contextos para saber como projetar outros espaços públicos como o parque JH - também em Torrelodones, que usamos parcialmente em guias e passeios.

Os institutos também estiveram envolvidos na concepção conjunta do novo Pradogrande graças às ferramentas de participação do Paisaje Transversal. Imagem © Paisaje Transversal

Exemplo Prático: Mapeamento em Pradogrande

Exemplo de um mapa preenchido pelos cidadãos no Parque JH. Imagem © Paisaje Transversal

Objetivo: Para concluir a fase de audição das necessidades do parque, uma atividade participativa é realizada em Pradograde. O objetivo será discutir cinco temas fundamentais resultantes da participação prévia técnica e da vizinhança, com o objetivo de que possamos compartilhar propostas in loco e os diferentes pontos de vista dos participantes.

Como o faremos: Caminhamos todos juntos pelo parque, desde o portão principal de Jesusa Lara até o quiosque 'El Patio de Mi Recreo' e cinco paradas são feitas, uma por uma das seguintes ideias:

  • 11:00 História e patrimônio cultural do parque, origem do parque e história que esconde. Provavelmente teremos a colaboração de Pablo Schnell, um vizinho arqueólogo de Torrelodones.
  • 11:40 Zonas em conflito, percepção de segurança nos espaços mais escondidos do parque e sua relação com os acessos.
  • 12:10 Espaço de exposição, como tornar o espaço central do parque mais confortável, mais verde e mais atraente, mantendo seu uso pontual para as festas da Colônia e outros eventos. Provavelmente teremos a colaboração de Valentín, coordenador de celebrações de Torrelodones.
  • 12:40 Jogos infantis e espaços para reuniões, criam espaços para todas as idades integrados e protegidos pelo parque. Gerar espaços de reunião para conversar em grupo e fomentar o encontro.
  • 13:10 O bar como centralidade e o parque cresce, temos a oportunidade de repensar o quiosque bar como um novo nó central do parque, também incorporamos os possíveis usos para a nova área que amplia o parque em 6.000 m2.

Dinâmica: No início do percurso, é dado para cada vizinho um folheto com informações do passeio e cinco balões. Em cada uma das paradas, a equipe técnica e pessoas convidadas farão uma breve introdução do tema a ser discutido. Enquanto isso, os participantes podem escrever em um dos seus cinco balões propostas e opiniões sobre o tema em questão. Acabada a introdução, tempo de uso da palavra, será dada aos moradores a partilhar as suas ideias e será recolhido, finalmente, todos os balões que serão amarrados a um peso agrupados no ponto de parada. Essa mesma dinâmica será repetida em cada uma das cinco paradas.

Para conhecer mais sobre o projeto do parque Pradogrande acesse o link.

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Sobre este autor
Cita: Paisaje Transversal. "Quais ferramentas temos para projetar de forma colaborativa o espaço público?" [¿Qué herramientas tenemos para diseñar de forma colaborativa el espacio público?] 01 Mar 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Pereira, Matheus) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/889675/quais-ferramentas-temos-para-projetar-de-forma-colaborativa-o-espaco-publico> ISSN 0719-8906

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